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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vestida de Preto : um conto memorialista.


Vestida de Preto narra a história de um amor que surge na infância e que é interrompido por uma Tia que julga a atitude das crianças como algo feio e pecaminoso. Porém, a reconstituição da ordem ou a união do par amoroso não acontece.


Vestida de Preto e Tempo de Camisolinha são contos marcados pela criação católica do autor. Em relação ao primeiro, Juca e Maria são expulsos do paraíso assim como Adão e Eva. "(...) o travesseiro cresceu como um danado dentro de mim e virou crime. Crime não, "pecado" que é como se dizia naqueles tempos cristãos." (ANDRADE, 1999, p.20).


Também no trecho seguinte temos a presença da religiosidade e do pecado: (...) Durasse aquilo uma noite grande, nada mais haveria porque é engraçado como perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completamente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão! Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando." (ANDRADE, p.21, 1999).
Existe um contrate entre "escuridão" que se relaciona ao mal, e a luz conotando a pureza e a perfeição.

As crianças são expulsas do quarto pela Tia Velha de quem Juca afirma "Nunca gostei de Tia Velha", subentendendo que a Tia sempre foi responsável por atrapalhar suas aventuras de criança. A Tia é portanto a antagonista da narrativa, assim como em outros episódios da vida do menino não abordados pela narrativa.

Com a chegada da Tia no quarto, após chamar a atenção das crianças e mandarem elas saírem, Juca percebe que "o que estávamos fazendo era completamente feio." (ANDRADE, 1999, p.21)
No momento o protagonista não entendeu aquele olhar, apenas quando cresceu e adquiriu experiência sobre o erótico é que descobriu a sua significação. Que a Tia condenava pecaminosa a ação das crianças porque o mundo dos adultos é cheio desses "pecados". Mundo dos adultos porque o próprio Juca afirma que suas ações eram inocentes e que só deixaram de ser a partir do olhar de reprovação da Tia.

"Maria estava na porta, olhando pra mim, se rindo toda, vestida de preto. Olhem: eu sei que a gente exagera em amor, não insisto. Mas se eu tive a sensação da vontade de Deus, foi ver Maria assim, toda de preto vestida, fantasticamente mulher." (ANDRADE, 1999, p. 25).

Maria representa a figura erótica e profana e Juca deixa-se levar pelo pensamento pecaminoso: "Um segundo me passou na visão devorá-la numa hora estilhaçada de quarto de hotel, foi horrível." Porém, mais uma vez o personagem é tomado pela consciência religiosa que o leva à auto-condenação por causa dos seus pensamentos.

Quanto ao papel erótico exercido por Maria, percebe-se que existe uma condenação quanto ao seu comportamento.Nesse processo de condenação do comportamento de Maria, tido como imoral, a presença da religiosidade exerce uma forte pressão, pois Maria e Juca vivem uma situação erótica, porém individualizada, o que é condenado pela igreja.

Naquele silêncio que se prolongava, devido aos pensamentos de Juca. Maria disse: "_ Ao menos diga boa-noite, Juca...!", Juca consegue dizer: "Boa-noite Maria, eu vou-me embora... (...) Nunca mais vi Maria, que ficou pelas Europas, divorciada afinal (...). Mas dentro de mim, Maria... bom: acho que vou falar banalidade." (ANDRADE, p.25).

Por mais que sentisse desejo de abraçar Maria, Juca correu com medo de seus próprios atos, como se a figura de Maria representasse o perigo. Mas nunca esquece de Maria que faz parte dos quatro amores eternos da sua vida.

Na narrativa destacam-se três planos temporais:
o primeiro, retrata o passado, marcado por verbos no imperfeito do indicativo, "estava", "era", etc.;
o segundo plano que é narrado em pretérito perfeito, dá à narração um cunho histórico, "veio", "ficou", etc.;
e o terceiro plano, na ordem temporal do narrador, utiliza-se o presente do indicativo, traduzindo a consciência do fazer literário, "Acho que", "vamos por ordem".

O espaço é restrito, quando crianças, os fatos ocorrem na casa da Tia Velha e no segundo momento, sala da casa dos pais de Maria. Alguns conflitos e passagens que aparecem no conto, de acordo com afirma Moisés, "o que importa num conto é aquela(s) personagem(ns) em conflito, não a(s) dependente(s); o espaço onde o drama se desenrola, não os lugares por onde transita a personagem, e assim por diante." (MOISÉS, 2006, p.49). Daí a irrelevância da vida de Maria na Europa em contrapartida com o reencontro entre ela e Juca.

Em Vestida de Preto Mário de Andrade, assim como em outras narrativas de Contos Novos, trabalha com aspectos introspectivos, uma vez que o conflito se localiza na mente do narrador-personagem, conflitos iniciados na infância e que retornam na adolescência

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/4342/1/Analise-Do-Conto-Vestida-De-Preto-De-Mario-De-Andrade/pagina1.html#ixzz1CpLYzifz
 
Recadinho :
Espero que  tenham gostado de "Vestida de Preto"!
Observem que uma boa história é a que acontece no cotidiano de qualquer um de nós e vai depender do narrador transformá-la  em um texto especial.
Você já pensou em escrever sobre algo que lhe aconteceu  e que mereça ser registrado?
Pense nisso!
Beijo.
 
Vem aí...A CAUSA SECRETA.

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