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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Por que é preciso capricho quando se faz um trabalho ? N1...Adivinhem!


NOME------------------------------------------------------ano 9°-----
DATA :

N1 – 2° Trimestre -LITERATURA- Elementos estruturais do conto

INSTRUÇÕES ;
1- Imprima esta página, identificando-se nela.
2- Responda às questões propostas à TINTA – MANUSCRITAS, numerando-as.
3- Valor = 4 pontos.
4- A notas serão atribuídas de acordo com a QUALIDADE DAS RESPOSTAS . Lembre-se de que esta é uma avaliação de Língua Portuguesa.
5- NÃO SERÁ ACEITA A AVALIAÇÃO EM QUALQUER FOLHA. Utilize o papel timbrado da escola para sua resposta ,preenchendo o cabeçalho .Quando pronto, deverá ser grampeado à folha impressa.

Data de entrega: IMPRETERIVELMENTE - 30 DE MAIO – 9°A e 9°B  /  01 DE JUNHO -9° C
Não serão aceitos trabalhos fora do prazo.


Elementos Estruturais do Conto.

Simule a criação de um conto a partir de alguns elementos básicos para desenvolvê-lo.
Ao responder às perguntas abaixo , você estará iniciando o seu trabalho. Procure criá-lo com coerência e lógica, porque esses dados poderão, posteriormente, ampliar-se em um texto completo.: O SEU CONTO.

1- Acepção da idéia central. O que acontece no conto, qual é o enredo principal?
Mistério, terror, infantil,fantasia,psicológico,humor,tragédia, vingança, traição,religioso, romance...ou outro.

2- O foco narrativo : quem conta a história?Explique.

3-Qual é o conflito?É interno ou externo?Obstáculos da natureza ou criados por personagens (vilões/ antagonistas)?

4-Onde ocorre a trama? Cenário/ espaço:descreva-o.
Rua,casa, floresta, cidade do interior, metrópole, um quarto, um hotel...outros.

5-Quando acontece? Temporalidade .

6-Quem são os personagens? Dê-lhes nome e identidade. Descrição física e perfil psicológico .


                                         

domingo, 22 de maio de 2011

A menina de lá ...in Primeiras Estórias.

linóleo de momartins22

João Guimarães Rosa.

No isolamento da roça, num lugar chamado “Temor-de-Deus”, localizado atrás da Serra do Mim, vivia uma estranha meninha chamada Nhinhinha. É notável como os topônimos iniciais já conferem ao conto uma aura de misticismo, que será progressivamente mesclado com um processo de sondagem do inconsciente.

Nhinhinha inventava estórias absurdas, como a da abelha que se vou para uma nuvem ou da necessidade “de fazer uma lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Intercalava suas brincadeiras com frases do tipo “A gente não vê como o vento acaba”, ou “Eu quero ir para lá”.


Quando a família falava dos parentes mortos, ela se ria dizendo: - “Vou visitar eles...” Tiantônia foi a primeira a perceber os dotes paranormais da menina: certa manhã ouviu-a dizer que queria um sapo; instante depois, entra pela sala uma “rã verdíssima”, indo direto para os pés de Nhinhinha. A família decide guardar o segredo:

“(...) não viessem ali os curiosos, gente maldosa e interesseira, com escândalos. Ou os padres, o bispo, quisessem tomar conta da menina, levá-la para sério convento. Ninguém, nem os parentes mais de perto, devia saber. Também, o pai, Tiatônia e a mãe, nem queriam versar conversas, sentiam um medo extraordinário da coisa. Achavam ilusão.”

Muitos prodígios se sucederam: o que ela falava acontecia. Quando a mãe adoecera, suas dores foram aliviadas pelo abraço e beijo quente da filha. Como as terras do roçado estavam secas, anunciando a perda total da colheita, o pai manifesta seu desespero e procura convencer a filha a pedir chuva. Dois dias depois, Nhinhinha “quis” uma arco-íris: choveu e, logo depois, um “vivo cor-de-rosa” desenhou-se no céu! Nesse dia, os pais não entenderam o motivo da menina Ter sido duramente repreendida pela tia. Dissimularam sua revolta, contentes com a perspectiva risonha que o futuro lhe acenava, alimentando projetos de desfrutarem economicamente a paranormalidade da filha.

Foi aí que Nhinhinha adoeceu e morreu. Abatidos pela tristeza, os pais, ao tomarem as primeiras providências para um enterro com “acompanhamento de virgens e anjos”, são interrompidos por Tiantônia, que lhes conta o motivo da repressão em Nhinhinha: no dia do arco-íris, a menina dissera que queria um caixãozinho cor-de-rosa com enfeites brilhantes. Diante do derradeiro milagre, os pais como que a beatificam: o conto acaba com a expressão “Santa Nhinhinha”.

Nhinhinha é uma personagem alegórica, que simboliza o lirismo puro da mágica inocência infantil. Ela representa o estágio congênito, inato da sabedoria, numa fase irracional, anterior à consciência lógica. Lembra o arquétipo da “criança primordial” desenvolvida por Jung; segundo essa noção, a criança possui sentido de totalidade ou integridade no conhecimento das coisa, que se manifesta apenas antes do aparecimento do ego consciente, irrompendo sob a forma do misticismo e da ilogicidade.

sábado, 14 de maio de 2011

As Margens da Alegria...in Primeiras Estórias

Analisar um conto com a envergadura de “ As Margens da Alegria” de João Guimarães Rosa é algo complexo pois o universo linguístico de Guimarães provoca uma gama considerável de sensações produzidas pela força que ele impõe às palavras, seja pela desestruturação da gramática, pela criação de neologismos, ou pela aproximação contundente com a linguagem poética.

O conto “As Margens da Alegria” é um olhar sobre a construção de Brasília. O personagem principal é um garoto denominado apenas de “O Menino”. Estruturalmente o conto se divide em cinco blocos. A seguir um olhar sobre cada bloco, seus sinais, índices e símbolos:

• A Partida e o Vôo
Os índices deste bloco compõem a aventura de uma viagem inédita: “era uma viagem inventada no feliz” “para ele produzia-se em caso de sonho”. Tudo se configura novo e bom para o Menino, por isso Guimarães opta por palavras que trazem a doçura, a alegria inerente da infância: “fremia no acorçôo, alegre de se rir para si”; percebe-se também a indeterminação, a inconsequência no sentido mais benéfico da palavra: “confortavelzinho, com um jeito de folha a cair”. Verifica-se os índices das facilidades da infância em que desejos são satisfeitos: “e as coisas vinham docemente de repente”. Tudo transpira liberdade: “O azul de só ar”. simbolizada pelo ato de voar, ainda a grande aventura humana, ver tudo de cima, “aquela claridade à larga”, a nova perspectiva de olhar, de conhecer a cidade grande sendo construída, de ter apenas “a luz e a longa-longa-longa nuvem.” Neste primeiro bloco tudo é índice de segurança, conforto, felicidade aliada a experiência segura de conhecer o inédito: “especial, de quatro lugares”, “forte afago” “proteção” “harmonia prévia, benfazeja” “balas, chicles” “amontoada amabilidade” “macio rumor do avião”

Referente a este bloco temos os sinais demonstrando a construção da cena: “Ia um menino, com os Tios, passar dias no lugar onde se construía a grande cidade” “Mãe e pai vinham trazê-lo no aeroporto”. “Respondiam-lhe a todas as perguntas”.

• A Chegada. A fronteira entre o selvagem e o civilizado
No segundo bloco do conto, o avião pousa e o Menino entra em contato com a terra firme e tem sua primeira experiência arrebatadora: a visão de um peru. Neste bloco os índices apontam o mundo dividido em duas dimensões: o selvagem e o civilizado: “a grande cidade começava a fazer-se, num semi-ermo”, “a mágica monotonia”. “a casa” representando a segurança necessária aos habitantes mas feita de “madeira, sobre estações, quase penetrando na mata”.

O índice principal da ausência de fronteira entre os dois universos é ausência de “quintal”. Outros elementos que transitam nos dois espaços: árvores, cipós, índios, pássaros, orquideazinhas. Simbolizando o inusitado, a quebra da paisagem, o novo: o peru. É praticamente impossível ficar indiferente a um peru. Sua estranheza visual colocada no conto pelos sinais: “bagas rubras” “a cabeça possuía laivos de um azul-claro” “torneado” “redondoso”, aliada a estranheza sonora que possui, aqui traduzida por Rosa com um neologismo “Grugulejou” “gruziou outro gluglo”, causam sempre um choque.

Os símbolos referentes à construção da cidade podem ser verificados na caracterização dada ao peru: “tinha qualquer coisa de calor, poder e flor, um transbordamento”. Se cada uma destas palavras simboliza Brasília ainda hoje, na sua construção estes símbolos eram muito mais exacerbados. A grande cidade se construía causando surpresa em todos, da mesma forma que a visão do peru alterou o dia do garoto.

• A perda da inocência pelo conhecimento da morte
No terceiro bloco, o Menino vai passear pelas redondezas, ao voltar, procura novamente o peru, e descobre de maneira muito direta que a ave havia sido morta para o “dia-de-anos do doutor”.

Na primeira parte deste bloco, mais um passeio, desta vez em terra firme. Temos aqui uma nova experiência de aprendizado de um mundo ainda bucólico, natural, interiorano, feito de coisas simples, pueris: poeira, malva-do-campo, cobra-verde, arnica, papagaios, pitangas, veado-campeiro, perdizes. Índices de um mundo que se perderia em breve: “em sua memória ficavam, no perfeito puro, castelos já armados”. O mundo como o Menino conheceu desapareceria ao saber da morte do peru: A morte da ligação entre o mundo selvagem e urbano. A morte presente nos índices de rapidez, de inusitado: “tudo perdia a eternidade” “lufo” “átimo”, “de repente” “grão nulo de um minuto”. Aqui a percepção real da mudança inexorável que a Cidade traria a todos, inclusive em sua dimensão de violação da ordem natural.

• O luto, A vitória do urbano
Na quarta parte, o Menino vai para mais um passeio, conhecer as obras do aeroporto. Tudo agora respira diferente, toda a leveza anterior desaparece. O mundo feito de verdes, de bichos, de azuis, de vôo se transforma em “trabalho de terraplanagem” “caminhões de cascalho” “águas cinzentas” “encantamento morto dos pássaros” “o ar cheio de poeira” “mundo maquinal”. O mundo externo era um espelho dos sentimentos do Menino. A perda da inocência reverberava em “compressoras, caçambas, cilindros, betumadoras”. Tudo recende a concreto, ferro, dureza, nada de alegrias, de curiosidades. Este bloco traz toda a simbologia da devassidão que o progresso impõe a todos. Símbolo concentrado no ‘assassinato' da árvore. O mundo novo feito de inflexibilidade: “lamina espessa”, “machado”, “derrubadora”. O mundo antigo feito de material orgânico, frágil “arvore: simples sem notável aspecto” “árvore de poucos galhos” é massacrado.

Guimarães cria uma interjeição para expor esta nova morte: “ruh...”. A frase final desta parte é “guardou dentro da pedra”. Pedra aqui simbolizando o túmulo onde se guardará a inocência perdida, o mundo antigo, o passado feito de alegrias e encantamentos, mas passado. O que se tem agora é um céu – atônito de azul.

• O crescimento. A beleza possível.
Na parte final do conto, anoitece, o Menino retorna ao terreiro, vê um outro peru, pensa ser o mesmo, mas engana-se. Depois, reencanta-se com um vagalume. A simbologia deste bloco está na aceitação-conformação do mundo novo. A cidade está construída, a beleza anterior não existe mais, o que existe agora é algo “menor, menos muito”. Mas mesmo deste novo universo, é possível nascer novas “alegrias”, basta não deixar de olhar para o mistério. Os índices que compõe este bloco evidenciam um mundo não tão belo: “faltava em sua penosa elegância o recacho, o englobo”, com evidências de tristeza: “tudo se amaciava em tristeza”, mas também há espaço de crescimento, de tomada de consciência: ‘trabalhava por arraigar raízes”. Guimarães aponta índices de violência, de solidariedade ausente e em seu lugar sentimentos menos nobres: “movia-o um ódio. Pegava de bicar, feroz, aquela outra cabeça”.

O Menino – o Brasil - vivia um momento de transição, de corte de algumas coisas: “a mata, as mais negras árvores, eram um montão demais”, para que novas luzes caíssem sobre a vida. O vagalume, a luzinha verde, singela, vinda da mata, resgatando a alegria.

Brasília construiu-se às custas de muito esforço. Houve, por bem ou por mal, uma alteração na rota da história brasileira, que João Guimarães Rosa com sua Estória retratou de forma poética e intensa no conto “As Margens da Alegria.

Análise do conto “As Margens da Alegria” de Guimarães Rosa, sob a perspectiva da Semiologia de Roland Barthes.
RUBENS DA CUNHA

domingo, 8 de maio de 2011

Primeiras Estórias : o mundo mágico de Guimarães Rosa


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."

  João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por "seu Fulô" comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias.

Três dias antes de sua morte o autor decidiu, depois de quatro anos de adiamento, assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras. Os quatro anos de adiamento eram reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "...a gente morre é para provar que viveu."


O escritor faz seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras com a voz embargada. Parece pressentir que algo de mal lhe aconteceria. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro de 1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa), mal tendo tempo de chamar por socorro.

Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.

PRIMEIRAS ESTÓRIAS

Publicadas em 1962, as 21 estórias são narrativas preocupadas em tematizar, simbolicamente, os segredos da existência humana.


Trata-se do primeiro conjunto de histórias compactas a seguir a linha do conto tradicional, daí o "Primeiras" do título. O escritos acrescenta, logo após, o termo estória, tomando-o emprestado do inglês, em oposição ao termo História, designando algo mais próximo da invenção, ficção. Na obra há a intenção de apresentar fábulas para as crianças do futuro.

À primeira vista, a leitura de Primeiras Estórias pode, falsamente, parecer difícil e a linguagem soar erudita e ininteligível, mas essa é uma avaliação precipitada. Na verdade, o autor busca recuperar na escrita, a fala das personagens do sertão mineiro; a poesia presente nas imagens, sons e estruturas de uma linguagem que está à margem da norma estabelecida pelos padrões urbanos.

Quanto ao emprego dos tempos verbais, nota-se que, na maior parte das estórias, o relato se faz através de uma mistura do pretérito perfeito com o pretérito imperfeito do indicativo.

A obra aborda as diferentes faces do gênero: a psicológica, a fantástica, a autobiográfica, a anedótica, a satírica, vazadas em diferentes tons: o cômico, o trágico, o patético, o lírico, o sarcástico, o erudito, o popular.

As personagens embora variem muito quanto à faixa etária e experiência de vida, elas se ligam por um aspecto comum: suas reações psicossociais extrapolam o limite da normalidade. São crianças e adolescentes superdotados, santos, bandidos, gurus sertanejos, vampiros e, principalmente, loucos: sete estórias apresentam personagens com este traço.

A relação com a morte e com o desejo de imortalidade está presente em toda a obra de Guimarães Rosa, mas talvez com mais intensidade em "Primeiras Estórias".