“As palavras têm sexo. Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos de estilo”. ( Machado de Assis)
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Comentando " O Peru de Natal".
Em Contos Novos –Mário de Andrade- aparentemente temos só uma coleção de histórias cotidianas sobre a vida provinciana na cidade de São Paulo, em especial abordando problemas corriqueiros da classe média.
Porém, à segunda leitura, é possível perceber que há uma urdidura sutil na construção de quatro histórias ali dispersas que , na verdade, formam uma sequencia onde a análise psicológica do personagem recorrente – Juca- mostra traços auto-biográficos do autor: Tempo de Camisolinha, Frederico Paciência,Vestida de Preto,O Peru de Natal.
“ O Peru de Natal” é o quarto conto a ser lido, pois representa a finalização de uma “ entrega” que , não se sabe se o autor publicaria caso estivesse vivo, uma vez que faz parte de seu acervo de publicação póstuma.
É uma narrativa sobre o modo de conduzir a vida, uma tessitura diferente sobre as situações -limite, quando se toma às mãos a rédea do próprio destino. É um jogo de antagonismo entre a imagem do pai e as atitudes do filho. Para este ,o pai era uma figura negativa: "natureza cinzenta", " desprovido de qualquer lirismo", "puro sangue dos desmancha-prazeres",enquanto o "peru perfeito", idealizado por Juca assume a conotação de única arma possível de derrota na luta surda contra o pai. O narrador, por tudo que viveu, confronta-se com o medo de permanecer para sempre preso a alguém que o sufoca. Termina por “ fingir para ganhar” uma batalha que, muito mais do que o visível, estava arraigada dentro dele :
Papai virara santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro objeto de contemplação suave. O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso.)
O que se pode constatar a partir de uma leitura cuidadosa é que a repressão paterna, também exercida por Tia Velha, era um entrave para a felicidade do personagem Juca ( Mário?) e que foi preciso exorcizá-la para começar a ser feliz ;
Minha mãe, minha tia, nós, todos alagados de felicidade. Ia escrever «felicidade gustativa», mas não era só isso não. Era uma felicidade maiúscula, um amor de todos, um esquecimento de outros parentescos distraidores do grande amor familiar. E foi, sei que foi aquele primeiro peru comido no recesso da família, o início de um amor novo, reacomodado, mais completo, mais rico e inventivo, mais complacente e cuidadoso de si. Nasceu de então uma felicidade familiar pra nós que, não sou exclusivista, alguns a terão assim grande, porém mais intensa que a nossa me é impossível conceber.
OBS : Toda obra artística pode e deve ser interpretada segundo o contexto , considerando-se aqui o criador, o tempo da criação e- sobretudo - a formação individual de cada um que se depara com ela.Opiniões divergentes são sempre aceitas desde haja argumentos que as comprovem .
Resumindo : Posso discordar daquilo que li? Sim, claro, sempre . Desde que você tenha algo a dizer que comprove corretamente seu ponto de vista.
Gizelda.
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Gilzar lir seu blog e adorei por isso se possivel mim adicionar para poder falar com vc desde ja grato...
ResponderExcluirgoggita_gotex@hotmail.com