De mim para você...
Ao criarmos um blog, sempre temos um objetivo, mas nunca conseguimos imaginar até que ponto ele vai, e quantas pessoas ele pode atingir.
Quando criei esse espaço tinha em mente facilitar o estudo da literatura, obviamente visando alunos cuja dificuldade era previsível, porque quem não lê, não pode entender nem literatura, nem a vida e muito menos o mundo em que vive. Mas semeei em terreno árido. As sementes não germinaram, nem quero aqui discutir o porquê. Seria enorme perda de tempo. Além do que é generalização, e há exceções que quero preservar.
A pausa foi reflexiva , confesso, nem tive vontade de voltar , mas...inacreditavelmente recebi muitos emails e recados em outros blogs, de professores e alunos do EM e de Universidades ( Letras , em especial) , distantes e próximos, aos quais as postagens se mostraram úteis e oportunas.
Assim, volto agora, com a certeza de atingir aqueles que me darão muito prazer e muita alegria, e com quem posso dialogar, APRENDER SEMPRE ...porque quando nos relacionamos com as pessoas certas temos muito a aprender.
Assim, um clássico...poesia e música:
Águas de Março, Tom Jobim:
Tom fez Águas de Março no sítio da família em Poço Fundo, estado do Rio de Janeiro, em março de 1972. A propriedade estava passando por uma pequena reforma, que consistia basicamente no reforço de um muro. Chovia muito, e a estradinha que levava ao sítio estava enlameada. Neste ambiente de obra, chuva, e lama, Tom escreveu a letra e a música. No folheto que acompanhou a primeira gravação da música, lançada em um encarte da revista "O Pasquim" em 1972, Tom diz que foi inspirado pelos versos iniciais de Olavo Bilac em "O Caçador de Esmeraldas":
Tom fez Águas de Março no sítio da família em Poço Fundo, estado do Rio de Janeiro, em março de 1972. A propriedade estava passando por uma pequena reforma, que consistia basicamente no reforço de um muro. Chovia muito, e a estradinha que levava ao sítio estava enlameada. Neste ambiente de obra, chuva, e lama, Tom escreveu a letra e a música. No folheto que acompanhou a primeira gravação da música, lançada em um encarte da revista "O Pasquim" em 1972, Tom diz que foi inspirado pelos versos iniciais de Olavo Bilac em "O Caçador de Esmeraldas":
"Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata
À frente dos peões filhos da rude mata
Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão."
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata
À frente dos peões filhos da rude mata
Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão."
Águas De Março - Tom Jobim
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma ponta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma ponta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
São coisas que pouca gente observa, mas há certas melodias que se casam tão bem com suas letras que uma praticamente não existe sem a outra. Pode ser questão de costume, pode ser questão de técnica, pode ser que o clima que a melodia dá valoriza a letra, e vice-versa. Enfim, é tudo isso e mais um pouco.
Tentar explicar isso, ou melhor, tentar equacionar tudo isso é como dizer que basta seguir algumas regras que qualquer casamento pode ser perfeito. E falo de casamento mesmo, homem e mulher deixando pai e mãe e constituindo um novo lar. O que faz com que um casamento dê certo?
O que faz com que uma música se case bem com sua letra?
Tenho sempre comigo alguns conceitos, que me ajudam na hora da necessidade, e diante do desafio de ser alguém que tenta escrever e compor.
É um casamento entre a letra e a música
E um bom casamento é aquele onde os indivíduos deixam de ser filho e filha, homem e mulher, e tornam-se ambos uma só carne. Inseparáveis. Assim é bom que seja com uma letra e uma música. Um nem precisa dizer o que quer, que o outro já entendeu. Um segue o outro o tempo todo. Se a melodia dá um clima de desfecho, a letra vai junto. Se é hora de falar sério, a música respeita. Se é hora de pular, a letra salta na frente.
A melodia obedece a um padrão descritiva, falando do fim do verão, uma época de chuvas e cheia de rios, enchentes, etc. E o que faz a letra? Fica o tempo todo descrevendo o ambiente, em uma pulsação poética onde as palavras parecem pingar como a chuva. A letra quase que faz a gente sentir o cheiro de terra molhada, ouvir o som da chuva. Coisa de mestre.
Nenhum casamento nasce feito – mas começa de um compromisso em fazer certo, e bem feito
Melodias e letras são mutáveis, e podem curvar-se uma à outra para privilegiar o produto final. Mas lamento notar uma coisa no universo das composições. Parece que há, em certos casos, um compromisso de fazer rápido e mais, mas não bem feito. Resultado? Uma montanha de músicas falando sempre a mesma coisa. As melodias mudam, mas o assunto...
É muito comum ver, em igrejas, gente que compõe. São músicos, artistas, que tem técnica para compor, mas parece que tem pouco para falar. Aí, para não perder a “música legal” que fizeram, começam a ver se não dá pra encaixar um salmo, ou um versículo, ou “uns aleluias”, uns “santo, santo, santo”, enfim, clichês em geral. Assim nascem algumas barbaridades.
Respeitando um ao outro, e fazendo valer o compromisso
Sempre há jeito. Sempre há soluções melhores do que desistir. Toda melodia merece uma letra que presta, e toda letra que presta merece uma melodia que a carregue adiante. Não é assim com casamento? Nem todo dia há paixão. Também há supermercado e fraldas sujas. Mas o compromisso assumido deve valer para a vida toda.
Composição? Esqueça o romantismo. O letrista é um poeta só na idéia que se faz dele, pois na prática tanto o poeta como o letrista suam a camisa para terminar a obra. Toda composição é, enfim, 1% de inspiração e 99% (ou mais) de transpiração.
Regras? Ora, se os grandes artistas só fossem seguir regras, o que seriam das obras primas? Casar uma letra com uma música é muito mais sentimento do que técnica. Voltando ao exemplo do Tom Jobim lá do início, tenho a impressão que uma letra como aquela só se faz cantando, tocando, rabiscando, alterando, testando, experimentando, mexendo aqui e alí, até a hora em que o autor “sente” que está bom. Não pergunte a ele o que é, mas confie que ele sabe.
Mas que elas existem, existem Todo compositor tem uma lição de casa para fazer. Quem compõe música tem que ouvir muito mais do que compor. E quem escreve letras, tem que ler muito mais do que escrever (eu me arrisco a dizer que deve-se ler 10 vezes mais do que se escreve). Como bem se diz: “quem pouco lê, pouco entende, pouco fala, pouco vê”
Quem escreve tem que saber o idioma em que escreve. Quem compõe precisa ter um mínimo de conhecimento musical para saber se expressar. Enfim, há arte, mas toda arte requer um grande volume de esforço. Aos que pensam que compor é coisa simples digo que “os vagabundos que me perdoem, mas suor é fundamental”.
Canção ganha enquete da melhor música brasileira da história, realizada pela Ilustrada junto a personalidades e jornalistas
"Águas de Março", de Tom Jobim, vence eleição
"Águas de Março", de Tom Jobim, vence eleição
LÚCIO RIBEIRO /18 Mai 2001
São
Uauuuu!!!
ResponderExcluirNão conhecia com tantos detalhes a história da canção.
Obrigada por partilhar conosco.
Abraços